Intro

Bem vindo ao blog Cuiqueiros, um espaço exclusivamente dedicado à cuica – instrumento musical pertencente à família dos tambores de fricção – e aos seus instrumentistas, os cuiqueiros. Sua criação e manutenção são fruto da curiosidade pessoal do músico e pesquisador Paulinho Bicolor a respeito do universo “cuiquístico” em seus mais variados aspectos. A proposta é debater sobre temas de contexto histórico, técnico e musical, e também sobre as peculiaridades deste instrumento tão característico da música brasileira e do samba, em especial. Basicamente através de textos, vídeos e músicas, pretende-se contribuir para que a cuica seja cada vez mais conhecida e admirada em todo o mundo, revelando sua graça, magia, beleza e mistério.

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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Continuação da postagem anterior

Dando continuidade à postagem anterior, além das dicas sobre o tratamento da pele animal dos instrumentos de percussão, o texto da IZZO cita outras questões que também merecem atenção. Logo no início, concordo quando é dito que "muitos fabricantes empacham o instrumento e colocam à venda sem tratar as peles", mas com a correção de que, no caso da cuica, absolutamente todos os fabricantes colocam o instrumento à venda sem tratar a pele antes, e pior ainda, o gambito também não recebe tratamento algum. Isso é ruim porque prejudica quem está começando a tocar cuica e ainda não possui conhecimento suficiente pra escolher uma boa pele e deixar o gambito de acordo com seu gosto pessoal, como fazem os cuiqueiros mais experientes.

Depois, fala que "a pele animal sofre muitas variações de acordo com o clima e a temperatura". Pensando como o texto aponta, o frio afrouxa a pele enquanto o calor estica, mas arrisco a dizer que não é bem isso. Na verdade, acho que o nível de umidade no ar é que faz a pele esticar ou afrouxar, e não a temperatura. Se persarmos, por exemplo, num ambiente como o de uma sauna, onde a temperatura é elevada, porém, muito úmida, será que a pele vai esticar ou afrouxar? Imagino que vai afrouxar. E no caso do ar condicionado? Já toquei num teatro com o ar condicionado ligado e pouco antes de começar o show, deixei a cuica no palco, já afinada, mas quando o show começou e eu dei a primeira puxada, a pele estava muito mais esticada do que a afinação que eu havia feito poucos minutos antes. Quer dizer, o ar condicionado deixou o ambiente frio, porém, com o ar seco, e por isso a pele esticou ao invés de afrouxar. Portanto, diria que a pele sofre variações de acordo com a umidade do dia ou do ambiente, tanto em locais abertos ou fechados. O "quente" ou "frio" certamente influenciam de alguma forma, mas não é a temperatura que faz a pele sofrer variações e sim o nível de umidade no ar.

Sobre a sugestão de se usar azeite de dendê para tratar a pele animal de instrumento de percussão, no caso da cuica, aproveito a opinião dos amigos Pierre do Pandeiro e Malabim, que deixaram, respectivamente, os seguintes comentários:

"eu acho que o sistema do azeite de dendê não seria um ótima opção pois ele engrossa a pele fazendo surtir mais os sons graves, sendo que na cuíca o que da aquele brilho é o som agudo"

"como sou adepto do candomblé já utilizava o azeite de dendê sendo que os atabaques são tratados desta forma. Cada um cada um, mas é uma ótima opção...".

Duas opiniões que se divergem, mas ao mesmo tempo se complementam. Malabim ainda finaliza dizendo: "tem um amigo meu, cuiqueiro, que utiliza creme hidratante". Usar creme hidratante para tratar a pele da cuica me parece mais viável e, quem sabe, mais eficaz do que o azeite de dendê.

Quanto à afinação em X, imagino que boa parte dos seguidores deste blog saibam o que isso significa, mas pra quem não sabe, a afinação em X é uma maneira utilizada por muitos cuiqueiros para afinar a cuica. Trata-se de apertar os parafusos alternadamente, formando um movimento de X realmente, como na imagem abaixo.



Essa ilustração mostra o movimento alternado de um parafuso para o outro: do primeiro para o segundo, do terceiro para o quarto e assim sucessivamente, do quinto para o sexto, do sétimo para o oitavo; independente do número de tirantes da cuica, a sequência segue dessa maneira, até chegar novamente no parafuso do início. O importante durante esse processo é dar o mesmo número de voltas em cada parafuso, geralmente com uma ou duas voltas, se a pele for nova, ou mais do que duas voltas, se a pele já tiver algum tempo de uso. Isso é o que vai determinar a altura da afinação, quer dizer, se o som da cuica vai ficar agudo, medio ou grave. Outra coisa muito importante para uma boa afinação é deixar todos os parafusos com a mesma pressão, então, depois de afinar em X, verifique se tem algum parafuso mais frouxo que os demais e, caso seja necesário, dê mais um aperto no parafuso identificado. Isso é o que vai resultar no equilíbrio da afinação e, consequentemente, no som harmonioso do instrumento
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